De kk2011

Main: Entrevista Com Bruce Labruce

O diretor Bruce labruce sobre o seu novo filme "O Reich da Framboesa"

O diretor Bruce labruce usa o fenômeno da Baader-Meinhof como ponto de partida para explorar a banalização do movimento terrorista radical alemão no seu último filme "O Reich da Framboesa". Depois de passar com êxito por muitos dos mais famosos festivais de cinema do mundo, inclusive Sundance, a Berlinale e o Festival Internacional de Cinema de Seattle, o filme de labruce vai estrear o 10 de setembro do 2004 e o dvd sairá a finais de ano. O criador de "This is Baader-Meinhof", Richard Huffman, fala com labruce.

RICHARD HUFFMAN: Me fale sobre você, sobre o seu background como diretor e sobre a sua filosofia na hora de construir um filme.

BRUCE LABRUCE: Depois de me criar numa granja do Canadá, mudei-me para Toronto para ir à faculdade de cinema da Universidade York. Comecei com produção, mas depois de dois anos passei à teoria e acabei por receber um mestrado em pensamento sócio-político e cinema. Enquanto estava trabalhando na minha tese (sobre o 'Vértigo' de Hitchcock) me desiludi com o mundo acadêmico e comecei a sair pela cena punk da cidade. Comecei a fazer pequenos filmes em super 8 experimentais com conteúdo homossexual explícito para rachar com a complacência sexual da cena punk daquele tempo. Com a chegada do hardcore e o speedcore, também chegou um certo machismo ao punk, que levava consigo uma veia homofóbica e sexista. Eu fiz fanzines e filmes provocativos e sexualmente explícitos para confrontar a conformidade sexual desses supostos radicais. O meu primeiro filme completo, 'No Skin Off My Ass', sobre um cabeleireiro gay que namora um skinhead neo-nazi, foi gravado em super 8 e depois levou-se a 16mm. Converteu-se num êxito do circuito dos festivais gays.

"O Reich da Framboesa" dirigido por Bruce labruce.

As minhas duas obras seguintes, 'Super 8 1/2' e 'Hustler White', foram gravadas em 16mm. Eram filmes sexualmente explícitos, artísticos e punks. As minhas duas últimas produções, 'Skin Flick' (e a sua versão hardcore: 'Skin Gang') e 'O Reich da Framboesa', foram feitos para companhias de pornô. Considero-me um artista que trabalha no pornô. Até este ponto tratei de manter com meus filmes a tradição do realizador homossexual de filmes avant-garde seguindo o rastro de Andy Warhol, Paul Morrissey, Kenneth Anger, Jack Smith, George Kuchar, e Curt Mc Dowell?. Também estou interessado em seguir os passos de outros famosos artistas homossexuais que faziam pornôs como Peter Berlin, Jack Deveau, Wakefield Poole, Peter de Rome, e Fred Halsted. Gosto de fazer filmes pessoais, e também considero o meu trabalho "underground", apesar de que cada vez mais, considerando o poder conjunto das grandes mídias e o alcance da internet, não exista tal coisa.

RICHARD HUFFMAN: Me conte sobre "O Reich da Framboesa"... por quê quis fazer este filme?

BRUCE LABRUCE: O meu filme anterior, o primeiro verdadeiramente pornô, Skin Flick/Skin Gang, era sobre uma parte de skinheads neo-nazistas, que representavam a extrema direita, que entravam no apartamento de um par de raça mista burguesa e gay e aterrorizava-os sexualmente e violava-os. Era uma investigação sobre por que os gays tendem a fetichizar as figuras autoritárias e fascistas (os policiais, os skinheads, etc...) e o fenômeno da prevalência da homossexualidade entre a extrema direita e os seus líderes. Com 'Reich da Framboesa' queria examinar uma parte da extrema esquerda - neste caso uma célula terrorista - para saber se havia similitudes nas dinâmicas sexuais. Os meus últimos três filmes, incluso 'Hustler White', que fala sobre prostitutos no Bulevar Santa Mónica de L.A., trata de homens viris que não se identificam em nada com os gays, mas que ocasionalmente têm sexo homossexual entre eles. Sempre estou interessado na idéia das políticas de identidade e na arbitrariedade ou artificialidade dos papéis sexuais ou de gênero. Muitos homens heterossexuais afincaram-se rigidamente num rol que não lhes permite sequer a possibilidade de impulsos homo ou bissexuais, apesar de muitos teóricos, desde Freud para adiante, afirmaram a noção de que todo mundo nasce ao menos com potencial bissexual. As mulheres parecem ser um pouco menos rígidas quanto ao sexo. Os homens homossexuais também se afincaram numa identidade sexual que não lhes permite ter sexo com mulheres, seqüestrando-se a si mesmos num ambiente exclusivamente masculino, tentando com todas as suas forças não pensar nunca numa vagina. Está claro que quando os homens heterossexuais são confinados juntos sob circunstâncias muito intensas - no exército, na cadeia, etc - o comportamento homossexual emerge muito facilmente. Da mesma maneira, nas culturas muçulmanas, onde os homens e as mulheres estão com freqüência segregados, a homossexualidade é bastante comum, ainda que seja muito discretamente e sem nenhum reconhecimento. É assim que os meus filmes tendem a explorar estes imperativos culturais e estes preconceitos.

A revolução é o meu namorado.

Daniel Bätscher é "Holger" e Susanne Sachsse é "Gudrun" no "Reich da Framboesa" Me desiludi muito com o movimento gay, inclusive a partir da metade dos anos 80 quando decidem se acomodar politicamente, já não dizia nada esteticamente e era tão burguês que não tinha remédio. (A atual tendência assimilacionista frente á conformidade sexual, o matrimônio, e a respeitabilidade demonstram o meu ponto de vista - os oprimidos estão demonstrando que se convertem em opressores). É assim que passei para o punk, porque parecia estar desafiando o status quo, a ascensão dos interesses e do controle empresarial, e os propósitos da ideologia dominante para controlar, dominar e neutralizar todas as formas de dissidência, diversidade e individualidade. O meu primeiro toque de atenção foi perceber que inclusive o punk, que se supõe uma subcultura radical, era sexualmente conformista. Isto levou a interessar-me por outras manifestações de protesto social e político, incluindo uma investigação sobre as organizações paramilitares ou terroristas de finais dos anos sessenta e setenta como o SLA, os Weathermen, os Black Panters, e claro, sobre a Baader-Meinhof, o RAF. Cada um destes grupos tomou muito seriamente a noção que Godard apresentou no seu filme 'Numero Deux': le cul, c'est la politique: o sexual é político. Acreditavam que a revolução só poderia acontecer se fosse acompanhada dum radical re-planejamento das morais sexuais e das suas convenções. A gente esqueceu hoje em dia que então havia uma coisa chamada revolução sexual, quando inclusive membros das classes médias experimentavam com a promiscuidade, o sexo em grupo, a bissexualidade e a homossexualidade, a vida, o sexo e a espiritualidade em comum, etc. Na universidade tive cursos como 'Os movimentos e a literatura de protesto', 'Psicologia e Feminismo'; assim tive conhecimento sobre os ensinamentos de pensadores como Reich, Marcuse e outros teóricos radicais que acreditavam que a repressão sexual era a responsável de muita da violência e da apatia e do molestar espiritual nas culturas avançadas tecnologicamente. Também estava muito interessado no jeito em que as minorias contra-culturais do momento - em particular *s negr*s, *s gays, e *s feministas - adotaram uma espécie de estilo e retórica proto-militar, muitas vezes tomada emprestada das guerrilhas insurgentes que imergiram simultaneamente na América Central e do Sul. Esses movimentos eram todos inicialmente marxistas, desafiantemente militantes e organizados numa espécie de modelo anarco-sindicalista e descentralizados. Emergiram ou ganharam força do movimento contra a guerra do Vietnã e as greves e protestos dos estudantes de Maio de 68, foi assim que lutaram para corrigir as injustiças sociais e políticas e as desigualdades baseadas na raça, na classe e no gênero. As plataformas de grupos de extrema esquerda que emergiram deste movimento estavam baseadas nessas idéias igualitárias e humanitárias. Acreditavam que os fins justificavam os meios para alcançar esses objetivos, o quê os situou em situações morais insustentáveis, acabando por se parecerem aos seus insultados inimigos (o oprimido que se converte em opressor é um tema sempre presente nos meus filmes). Com 'Reich da Framboesa' queria voltar a essas idéias e a esses sentimentos num contexto moderno. Depois do 11 de Setembro, particularmente na América do Norte, a esquerda foi castrada e condenada virtualmente ao silêncio. Queria fazer um filme que desse voz de novo à retórica da esquerda, anti-multinacionais, anti-capitalista, que foi uma vez parte do discurso público mas que acabou por estar completamente ausente. O filme também introduz uma crítica à esquerda, censurando a gente que ou não pratica o que discursa ou que se volta tão rígida e intratável nas suas crenças que ela mesma se vê opressiva e dogmática.

O 'Reich da Framboesa' trata duma parte da extrema esquerda em Berlin que imita a RAF. Gudrun é a líder de um grupo de homens novos heterossexuais, impressionáveis e que são captados pelas suas idéias radicais e pela sua energia. Ela crê que a monogamia heterossexual é uma construção burguesa que deve ser derrubada para conquistar a verdadeira revolução, assim ela faz com que esses rapazes héteros façam sexo entre eles para provar a sua fidelidade a causa. Também resulta que isto é o argumento perfeito para um filme pornô gay.

RICHARD HUFFMAN: No wed do filme, você descreve o 'Reich da Framboesa' como "um filme pornô/artístico que, como todos os meus filmes, usa a pornografia como um ponto de partida para examinar as políticas sexuais e o radicalismo homossexual (para mim, trabalhar na pornografia é como um exercício de gênero)”. A partir disto, até que ponto foi o 'radical chique' um ponto de partida para examinar as políticas sexuais e o radicalismo homossexual? Pode ser vista a linha argumental do radical chique como um exercício de gênero?

BRUCE LABRUCE: Também fiz o 'Reich da Framboesa' com a intenção de comentar a tendência cultural moderna de seqüestrar e banalizar o significado do radicalismo e da militância sem adotar nenhuma da sua substância política, ou ainda pior, no processo, contradizer completamente a intenção original. No meu filme um dos slogans é 'Madonna é contra-revolucionária', e creio firmemente. Como sempre dizem, Madonna é justamente o contrário de alguém como Jean Genet, que tinha como estratégia ir rapidamente à aquela parte do mundo onde emergira um verdadeiro impulso revolucionário (os Black Panthers na América de finais dos anos 60; os palestinos do Oriente Médio nos anos setenta), mas tão logo detectava qualquer sinal de colaboração ou institucionalização, não só os abandonava como se voltava contra eles. Madonna alimenta-se dos movimentos revolucionários (normalmente das manifestações subculturais gays e/ou negras), mas com a estratégia de assimilação, neutralização, banalização, e por final esgotando-as e abandonando-as. É o exemplo máximo de alguém que utiliza o ‘radical chique’ para fins especulativos e puramente capitalistas. Na Alemanha houve durante quatro ou cinco anos um ressurgir do interesse pela RAF, mas majoritariamente como um símbolo de moda, um significante de rebelião cosmética similar ao fenômeno em que o Che Guevara se converteu num novo James Dean ou Marilyn Monroe. Inclusive houve um filme chamado Baader que converteu Andreas Baader numa espécie de herói folk bonito, tudo estilismo e nada de substância. Grupos como o RAF tinham um certo quociente de glamour nos anos setenta, com as suas jaquetas de couro, os bonés, os óculos de sol, os carros rápidos, porém seu glamour também provinha das suas fundas convicções sociais e políticas e o seu compromisso para levar a cabo ações contra o estado. O intelectualismo também era considerado glamouroso, em contradição com a tendência atual de desprezar e desconfiar da análise intelectual. O glamour tinha a ver com uma espécie de mentalidade como Robin Hood. Com o triunfo do capitalismo, os crimes contra a propriedade ou o roubo são considerados tão piores quanto a violência ou o assassinato.

Os radicais Holger (Daniel Bätscher) e Andreas (Dean Stathis) seqüestram Patrick (Andreas Rupprecht).

O 'Reich da Framboesa' também é uma espécie de filme de 'explotation', um gênero que já foi adotado por Hollywood há tempo (o que são filmes como Bad Boys ou American Pie mais que fáceis 'explotations' com grande orçamento?). Existia uma tradição de filmes que exploravam o tema do sexo, também filmes de série B que incluíam tramas de seqüestros, estilo Heist, estilo Caper, etc. Também me refiro a esses gêneros.

RICHARD HUFFMAN: Muito se tem dito sobre o gênero e as políticas sexuais da Baader-Meinhof; como representaram uma manifestação do ideal do amor livre nos anos sessenta e setenta; como os homens e as mulheres compartilhavam o poder. Mas nunca se discutiu a possibilidade ou a probabilidade de que alguns dos membros do grupo fossem gays (apesar da simples lógica de que devia haver alguns). Como acredita que seria visto o grupo 'Reich da Framboesa' e os modernos seguidores do ‘radical chique’, se o grupo explicitasse que incluíam a liberação gay na sua filosofia pública?

BRUCE LABRUCE: Na realidade, nos círculos gays de Berlin parece que é amplamente aceito que Andreas Baader começou como um prostituto masculino que freqüentava os bares do distrito Schoeneberg, o gueto gay de Berlin. Durante a realização do 'Reich da Framboesa', um amigo apresentou-me à Felix Ensslin, o filho de Gudrun Ensslin, e comemos juntos. Falei a ele do projeto, que era artístico/pornográfico e se baseava nas teorias de Reich e Marcuse, e pareceu-lhe que a Baader/Meinhof estaria totalmente de acordo, já que acreditavam que o sexual era político e que a revolução sexual era uma parte importante do seu programa. Quando o RAF e outros grupos radicais como as SLA ou os Weathermen existiam nos anos setenta, o ambiente era muito diferente. As idéias de liberação sexual e o ataque aos papéis sexuais predominantes eram muito mais comumente aceitos e inclusive praticados pelos membros das classes médias. Uma parte das mulheres da SLA eram abertamente lesbianas, e os Weathermen praticavam o sexo em grupo e a bissexualidade. É assim que não creio que a homossexualidade aberta fizera com que fossem menos convincentes. Quero dizer, Huey P. Newton das Black Panthers foi famoso por incluir os gays e as feministas como parte da classe da revolução que desejava. É interessante e algo triste que o mais popular movimento negro hoje em dia, o hip hop, despreze continuamente as mulheres e os gays. Mas claro, o hip hop majoritário foi cooptado pelo consumismo do capitalismo, como ocorre com o movimento gay. Onde está a Baader-Meinhof quando se precisa dela?

RICHARD HUFFMAN: Estou seguro de que sabe que Gudrun Ensslin fez um filme pornô antes de passar à clandestinidade. Tal como eu o entendo, fez coro ao espírito do seu tempo: tanto como uma declaração de liberdade sexual como um jeito de conseguir dinheiro. Há algum tipo de similitude com os atores e atrizes do seu filme pornô-artístico? Tinham motivações além das simples razões financeiras?

BRUCE LABRUCE: Acredito que as considerações financeiras não eram parte da sua motivação. Os meus filmes têm orçamentos muito baixos, assim a gente não participa deles pelos lucros. Todos os atores do filme são atores pornôs, e assim estavam a fazer o seu trabalho e não sabiam onde iam participar até que chegassem ao set. Conheciam a minha reputação e tinham interesse em trabalhar comigo. Quando conheceram a idéia geral do filme, gostaram. Todos são astutos e captaram aonde eu queria chegar. A atitude européia frente ao sexo e o pornô está muito mais em linha com o espírito da liberdade sexual que se viveu na América dos anos sessenta e setenta. Têm uma atitude adulta frente a ele, e não esses problemas que têm os norte-americanos com o pornô. Insisto que todo mundo que participa nos meus filmes pornôs sabe o que faz e porque o faz, e não tem nada a ver com um ambiente de exploração.

A lider Susane Sachsee é "Gudrun"

Quanto a Susanne Sachsse, que interpreta a Gudrun tão fervorosamente, ela é uma reconhecida atriz de teatro de Berlin, que participou no Berliner Theatre Ensemble durante três anos e tem interpretado a Bretch e aos demais. Assim, no seu caso foi mais o seu interesse em trabalhar comigo como diretor e de se por à prova como atriz num papel muito difícil. Ela vêm do leste de Berlin, assim, cresceu de trás da Cortina de Ferro e isso a fez compreender as ramificações do grupo anti-capitalista Baader-Meinhof muito mais inteligentemente que eu, e aprendi muito com ela.. (Para mim, todo o fenômeno do RAF era, desde longe, bastante abstrato, só foi despois de começar a fazer o filme em Berlin e de me topar com gente diretamente afetada pelo RAF que começou a ser algo real e concreto). Susanne sentiu como atriz que era importante para ela ir até o final e representar cenas sexualmente explícitas no filme. Dizem que eu gostaria que ela as fizesse, mas não era condição para não lhe dar o papel. Assim que foi a sua decisão. Parte do significado do filme é o de ser genuíno, aparecer o sexo real reforça os ideais da liberação sexual que se estar a expor no filme. É assim que Susanne não só compartilhava o espírito do filme como também o radicalismo que ali se expõe.

RICHARD HUFFMAN: Qual é a audiência que você pensa para o 'Reich da Framboesa'? Posso fazer uma idéia de que é para um rapaz gay sentar pra ver um caloroso filme pornô hétero; é bastante duro para um rapaz hétero ver algo que passe de homoerótico. Mirando o trailer do filme, imagino que este é um elemento forte do mesmo; que reação acredita que terão os tios héteros frente ao filme? Espera resultar provocador e interrogar ao expectador hétero sobre a sua sexualidade?

BRUCE LABRUCE: Normalmente nos filmes me encanta incluir algo que ofenda a todo o mundo. Muitas vezes me surpreendo inclusive de alguém que as queira ver. O mundo da arte normalmente ignora-me porque pensa que sou demasiado pornográfico, enquanto que o mundo do pornô rejeita-me por ser demasiado arte ou intelectual e por interferir com o seu amado produto puramente pornográfico. Sou um intruso, um aventureiro. Até agora passei o 'Reich da Framboesa' em bastante festivais não gays - Sundance, a Berlinale, o Festival Internacional de Cinema de Seattle, o Festival Underground de Melbourne e a maior parte deles parecem que vai bem com as audiências mais ortodoxas. Começa com uma cena de sexo hétero, assim, isso pode tranqüilizar aos expectadores masculinos heterossexuais. Claro que quero que o filme chegue aos espectadores héteros. Já me dei conta de que um monte de críticos de filme da internet ficaram nervosos. Falam e falam sobre o mal e horrível que é - parece que lhes afeta. Talvez estou-lhes tocando num nervo. Isso espero. Especialmente a esses revolucionariozinhos que pensam que são tão espertos e tão progressistas. E depois não há quem os tire da posição do missioneiro.

RICHARD HUFFMAN: Explorando a dinâmica deste grupo de radicais seguidores do RAF, você aprendeu algo sobre a dinâmica real do grupo Baader-Meinhof? Ficou evidente como el*s deveriam funcionar, na medida em que você explorava o seu grupo fictício?

BRUCE LABRUCE: Bem, o meu filme é sobre um grupo de aprendizes de terroristas muito inept*s que copiam a Baader-Meinhof de um jeito cômico. Tive como referência filmes como a '3ª Geração' de Fassbinder, 'La Chinoise' de Godard e 'WR: Mysteris of the Organism' de Dusav Makavejev, filmes pop de aceitação que ilustravam comicamente os princípios revolucionários com recursos narrativos, direções da câmara, ou inclusive com elementos de documentário. Não se deve supor que meu filme deva ser tomado como uma investigação séria dos princípios da cooptação terrorista, mas, de um jeito estranho, cada vez que se faz um filme, sobretudo um de baixo orçamento, ele se converte numa espécie de guerrilha urbana. Trabalhávamos sem permissão, gravávamos em lugares improvisados sem permissão, gravávamos gente na rua sem que o soubessem, etc. Botaram-nos num apartamento de um velho edifício do leste de Berlin, na Karl Marx Allee, porque *s vizinh*s começaram a se queixar de ver gente com gorros levando pistolas entrando e saindo do edifício. Assim que de certa maneira nos aproximamos do grupo, de sensações de tratar de evadir às autoridades, e operar fora de sua vista. Também quando se faz um filme inevitavelmente se adota essa convicção de que será feito tudo o que seja preciso, seja o que for; de que o fim justifica os meios. Gravar um pornô sempre se assemelha a uma atividade de guerrilha, como se estivesse a contrariar alguma lei, moralmente se não é legalmente. Quando estávamos a gravar in situ nos subúrbios do oeste de Berlin, souberam de alguma maneira que estávamos gravando um filme pornô e em seguida tínhamos a rapaziada do bairro tentando ver pelas frestas. Me fez pensar no quão difícil que deve ter sido para o RAF tentar operar e fazer todas as suas atividades ilegais sem ser apanhados pela polícia. Assim, bem que podíamos ser chamado de 'os terroristas dos filmes'.

original: http://grafia.blogspot.com/2005/01/o-director-bruce-labruce-sobre-o-seu.html

Livre tradução por dois-corpos@hotmail.com

labruce

Originário de http://kk2011.confabulando.org/index.php/Main/EntrevistaComBruceLabruce
Pagina modificada em 21 de April de 2011, às 22h17