De kk2011

Main: Glossario Do Guia Vidas Plurais

Alteridade

É a condição, qualidade ou natureza do que é outro, distinto: outridade.

(ver verbete binarismo, será?) a alteridade é o caráter do que é entendido como o outro nos pares binários; como a oposição parece ser um mecanismo fundamental do pensamento, e essa oposição sempre vem acompanhada de um juízo de valor, alteridade tem um sentido de desvalorização no sistema hierarquico de pensamento.

Binarismos

definir um termo quase sempre é diferenciar entre ele e outro termo. temos o costume de pensar por oposição. também costumamos construir taxonomias onde as divisões em duas categorias são recorrentes. por exemplo, quando se diz num contexto religioso que somos compostas de corpo e mente, esse exemplo congrega as duas afirmações: as pessoas se dividem em duas 'partes', que obviamente se complementam, e essas partes são devidamente opostas. ou na biologia, quando a classificação mais relevante de um ser vivo é por espécie e gênero.

a essa idéia de que existe algo e seu oposto ou de que todas as coisas se dividam em duas partes damos o nome de binarismo. a grande questão que envolve os binarismos é que essa construção de oposições entre termos normalmente vem associada a uma atribuição diferente de valores a cada um dos termos e, por isso mesmo, uma hierarquia entre eles.

você já reparou que temos o hábito de dividir todas as coisas em duas partes opostas e/ou complementares? algumas teóricas(os) dizem que é porque a diferenciação dos seres humanos em dois grupos sexuais evidentes formaria uma mentalidade de binarização do mundo: a diferença sexual humana como medida de todas as outras coisas. assim, boa parte dos binarismos estariam devidamente sexualizados, ou seriam sexualizáveis. boa parte do esforço feminista é de desmontar esses binarismos rumo a um entendimento mais plural do mundo e de nós mesmas.

outro termo muito usado com o sentido de "binarismo" é "dicotomia".

CEDAW

A CEDAW é a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher que foi adotada pela Resolução 34/180 da Assembléia Geral das Nações Unidas em 18 de dezembro de 1979. Ratificada, com reservas, pelo Brasil em 1º de fevereiro de 1984. Reservas que foram retiradas em 20 de dezembro de 1994.

Conferência de Belém do Pará

A Convenção de Belém do Pará é o nome normalmente dado à Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, adotada pela Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos em 6 de junho de 1994 e ratificada pelo Brasil em 27 de novembro de 1995.

Conferência de Beijing

A Declaração de Pequim (Beijing), 1995. Adotada pela 4a Conferência Mundial sobre a Mulher: Ação para Igualdade, Desenvolvimento e Paz (1995). Manifesta o reconhecimento pela luta das mulheres e o compromisso com a igualdade de direitos entre mulheres e homens; ressalta a importância da plena participação das mulheres em condição de igualdade com os homens em todas as esferas da sociedade (inclusive nas esferas de poder e de decisão); e recomenda medidas para garantir que todas as suas políticas e programas de ação reflitam uma perspectiva de gênero.

Crossdressers

Crossdressers é um termo em inglês que também designa travestismo no sentido de se vestir como uma pessoa do outro gênero. Porém o termo se aplica a homens (muitas vezes heterossexuais) que gostam ou sentem prazer em se vestir de mulher em sua intimidade.

drag queens e kings

‘To drag’ em inglês é algo como se travestir, no sentido de se vestir como uma pessoa do outro gênero. A nossa noção de travesti é um pouco diferente, porque a travesti não apenas se veste de roupas que identificam-se ao outro gênero, mas produz de fato mudanças corporais (que são mais permanentes). Drag Queen é um termo que se refere à homens que se vestem de mulher, normalmente para um show ou apresentação. A drag tem um caráter mais cômico e debochado, é uma caricatura das normas de feminilidade. Já Drag King designa mulheres que se vestem de homens.

Desconstruir, Desconstrução

A desconstrução é um esforço político de crítica da realidade social. Não se refere a uma destruição, mas ao trabalho de identificar e visibilizar fraturas na realidade social que desmascaram a aparente estabilidade do mundo. Trata-se de um trabalho político de desmontar e remontar a realidade social como se fosse uma máquina, para, ao fazer isso, ver o que ele esconde e encontrar possibilidades de transformação.

Desnaturalização

Desnaturalização é o esforço político de perceber os processos sociais e a relações de poder que constroem nossa realidade, que muitas vezes são mascaradas e percebidas como "naturais", fazendo-nos acreditar que a realidade não pode ser diferente do que é hoje. Ver: naturalização.

Dispositivo

em português, dispositivo pode ser definido como adj. Que contém disposição, ordem, preceito. / S.m. Regra, prescrição, artigo de lei: o dispositivo constitucional. / Aparelho ligado ou adaptado a instrumento ou máquina, que se destina a alguma função adicional ou especial.

o uso que propomos aqui é derivado do uso proposto por Michel Foucault. Em algum sentido a proposição de Foucault é inspirada no uso corrente do termo 'dispositif' em francês porque tem uma dimensão do que é artificial ou maquínico de um lado, e a dimensão da normatividade do outro. O dispositivo é uma rede articulada entre certas normas, regras, práticas, eunciados científicos, instituições, que atende a uma urgência e materializa uma certa realidade. O exemplo que usamos no nosso guia é o da sexualidade. O dispositivo da sexualidade é a rede de saberes (médicos, religiosos, morais, higienistas, biológicos, fisiológicos, anatômicos, etc) e poderes que estabelecem uma realidade do sexo e da sexualidade. A conexão desses saberes cria a materialidade de um sexo que passa a ser entendido como natural.

Diversidade

Epistemologia, espistemológico

epistemologias num sentido amplo são sistemas de conhecimento, ou a modos de entender e interpretar o mundo.

Estado Laico

Estado Laico é o Estado que não prega nenhuma religião, não baseia suas leis em princípios religiosos e não utiliza concepções religiosas para beneficiar algumas pessoas em detrimento de outras. Não se trata de um Estado que negue a importância da religiosidade na vida das pessoas e desconsidere as tradições religiosas na formulação de políticas públicas, mas que justamente perceba a diversidade das tradições religiosas e não valorize uma em detrimento de outras, garantindo a liberdade de credo e, inclusive, os direitos das pessoas que não professam ou praticam nenhuma religião. O Brasil é formalmente um Estado Laico desde a Proclamação da República em 1889.

Estereótipo, estereotipia

Estigmas, estigmatização

A palavra estigma se refere às marcas e características negativas que são atribuídas às pessoas e lidas como justificativas que fundamentam a sua exclusão. Essas marcas atuam na desumanização e inferiorização, tornando aquele ou aquela estigmatizada inabilitada para uma plena aceitação social e para uma inserção não-violenta nos espaços de socialização. Estigmatização se refere ao processo de construção dos estigmas. Ainda que muitas vezes os estigmas apareçam como “naturais”, são resultados de processos sociais de opressão e se baseiam em preconceitos, visões discriminatórias e atos de violência e segregação. Veja módulo VI.

Etnocentrismo

Etnocentrismo é uma visão ou avaliação que toma os conceitos e as concepções do grupo cultual em que se está inserido como medida de avaliação de um grupo diferente. Trata se uma visão ou avaliação preconceituosa, feita a partir de valores, referências e padrões específicos mas que são concebidos como universais. A cultura em que estamos inseridas/os é tomada como centro, como parâmetro universal, na avaliação de todas. Normalmente, do etnocentrismo decorre a hierarquização de povos, a naturalização de costumas e a dificuldade de compreender a diferença.

falocentrado, falocêntrico

que está centralizado no falo; falo é a imagem do órgão sexual masculino (pênis) ou a função simbólica do mesmo.

Fenótipo

Fenótipo se refere às características observáveis de um organismo. Diferencia-se do termo "genótipo", que são as informações hereditárias contidas em seus genes. O fenótipo é da expressão do genes e de fatores ambientais, bem como da cultura no meio da qual uma pessoa está inserida que, a partir de um sistema simbólico, torna certas características relevantes e observáveis.

Hegemonia, Hegemônico

Heteronormativo, heteronormatividade

Heteronormatividade é o nome que se dá aos mecanismos heterossexistas que instauram a heterossexualidade como a norma sexual.

Homoafetividade

O termo "homoafetividade" se refere ao conjunto de relações afetivas, eróticas e sexuais possíveis entre pessoas do mesmo sexo. Esse termo busca ampliar o termo "homossexualidade", tirando a ênfase na questão da sexualidade que faz com que muitas vezes as relações entre pessoas do mesmo sexo sejam pensadas como unicamente sexuais e promíscuas.

Homoparentalidade

O termo "homoparentalidade" foi cunhado por volta de 1996 pelo grupo de ativistas franceses integrantes da Associação dos Pais e Futuros Pais Gays e Lésbicos (APGL). Esse termo busca dar visibilidade às famílias compostas por casais de mães lésbicas e de pais gays e ser usado como vocabulário político na luta pela garantia de direitos e reconhecimento estatal dessas famílias. Recentemente passou a significar, para além de casais homossexuais, outras configurações familiares que fogem dos padrões heteronormativos, como famílias com mães travestis, pais ou mães transexuais etc.

Identidade

Em termos gerais, identidade é uma relação com aquilo que se é. Identidade é aquilo com o que nos identificamos e que faz com que nos reconheçamos como o que somos. A identidade é um conjunto de signos, significados e contextos que permitem que nos identifiquemos: Em um explo simplificado, ter nascido no Brasil, gozar de direitos e deveres ligados com esse país, partilhar de um conjunto de práticas culturais, linguísticas (entre outras coisas), faz com que sejamos brasileiras/os, isto é, a identidade de "brasileira/o" é determinada por esses elementos, assim como diversos elementos determinam a identidade de estudante, de docente, de criança, adulta/o, de homem, de mulher, de heterossexual, lesbiana, bissexual, etc.

identidade de gênero e expressão de gênero

Compreendemos identidade de gênero a profundamente sentida experiência interna e individual do gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo (que pode envolver, por livre escolha, modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgicos ou outros) e outras expressões de gênero, inclusive vestimenta, modo de falar e maneirismos. (retirado dos princípios de yogyakarta)

ideologia

ideologia é um sistema de valores ou crenças específico a um sistema político e/ou econômico e que serve a um propósito especifico dentro desse sistema (fundamenta práticas importantes, serve a propósitos específicos do grupo que a propõe/sustenta etc). a ideologia dominante confunde-se com o senso comum e instaura um horizonte de inevitabilidade, isso porque um mecanismo presente na dominância de uma ideologia é a naturalização dessas crenças.

invisibilizar, invisibilização

Lugares sociais

Os lugares sociais são os espaços de relação determinados pelas práticas em sociedade. Estes espaços determinam como devemos nos comportar com as/os outras/os, com o mundo e conosco mesmas/os. Esse comportamento está vinculado com o funcionamento de normas, códigos, crenças e sentidos sobre nossos modos de relacionamento determinados pelas práticas sociais.

naturalização

Naturalização se refere ao processo em que algo que é produzido culturalmente, através das práticas sociais e relações de poder, passa a ser visto como natural e como causa daquilo que na verdade é consequência. Ver: desnaturalização.

nome social

é o nome pelo qual a pessoa se identifica ou é identificada em sua comunidade. diferente do nome de registro civil; no caso de travestis e transexuais o nome social é uma forma de afirmação de identidade.

normatização

O processo por meio do qual as pessoas são enquadradas na normas sociais e passam a ser vistas como normais. Muitas vezes entendemos que o "normal" é o natural, o que não precisa de nenhum esforço para ser como é. Nessa visão, o que se desvia da norma aparece como anti-natural. No entanto, a normatização é resultado de forças sociais que buscam adequar as pessoas, suas práticas, seus desejos, seus corpos e suas relações em modelos que são vistos como corretos pela sociedade.

orientação afetivo-sexual, orientação sexual

Compreendemos orientação sexual como uma referência à capacidade de cada pessoa de ter uma profunda atração emocional, afetiva ou sexual por indivíduos de gênero diferente, do mesmo gênero ou de mais de um gênero, assim como ter relações íntimas e sexuais com essas pessoas. ( retirado dos princípios de yogyakarta)

Patriarcado e sociedade patriarcal

Chamamos de patriarcado a organização social centrada na diferença de poder e, portanto, na dominação das mulheres pelos homens. O regime patriarcal é uma expressão das ideologias sexistas, nele mulheres e homens tem papéis específicos e uma divisão sexual do trabalho está em operação, as mulheres aparecem como as cuidadoras e por isso a elas é reservado o espaço do lar, enquanto os homens aparecem como trabalhadores ou provedores. Além disso, no patriarcado a figura masculina é central para a organização familiar, o patriarca detém autoridade sobre os corpos e vontades das demais familiares.

Princípios de Yogyaarta

Em novembro de 2006 reuniu-se na cidade de Yogyakarta na Indonésia um grupo de especialistas em direitos humanos e ratificaram uma carta de princípios de aplicação da legislação de direitos humanos para as questões de orientação sexual e identidade de gênero, tal documento ficou conhecido como Princípios de Yogyakarta. Tais princípios afirmam a obrigação primária dos Estados implementarem os direitos humanos e acompanha cada princípio uma lista de recomendações aos Estados. São 29 princípios dentre os quais constam o direito à vida, direito à igualdade, à não discriminação, à educação, à segurança pessoal, à privacidade, à liberdade de opinião ou expressão (inclusive expressão de gênero), à constituição de família.

Redesignação Sexual

chama-se redesignação sexual a intervenção cirúrgica que algumas transexuais buscam para redesenhar sua genitália de acordo com sua identidade de gênero. vulgarmente conhecida como 'cirurgia de mudança de sexo', tal procedimento já foi chamado de 'readequação genital' o que é uma terminologia complicada porque assume que há uma inadequação corporal ou um problema com o corpo da pessoa transexual.

Ressignificar

ressignificar é atribuir um significado novo a uma palavra. um procedimento bastante utilizado por grupos militantes, se dá geralmente quando a palavra tem um sentido pejorativo e um esforço de atribuir novo significado que seja mais interessante politicamente é empreendido.

subjetivação, subjetivar

Subjetivar e subjetivação se referem ao processo socio-cultural através do qual nós chegamos a ser aquilo que somos.

Sexista, sexismo

sexismo é um sistema de pensamento que institui grupos sexuais e instaura uma hierarquia entre eles. geralmente dizemos que uma atitude, fala, pensamento ou ação é sexista quando ela reforça essa diferença de poderes entre os diferentes grupos sexuais.

Sistema Sexo/Gênero

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