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Campanha Contra O Perdao

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23 de October de 2008, às 19h03 por 200.168.36.142 -
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gente,

vamos, por favor, começar uma campanha contra o perdão? é urgente!

eu soube por alto e bem que tentei não falar no assunto, já basta todos os
jornais, todos os plantões, todas as tvs falando do tal assassinato, da
menina sequestrada pelo ex-namorado. feminicídio em tempo real[1]. mas não
deu. hoje, logo de manhã, foi preciso interferir, depois de ouvir que *se
até a mãe perdoou o assassino*, quem somos nós pra não perdoar, *ainda
existe o sentimento de perdão na humanidade*.

atenção para o *ainda existe*.

como assim *ainda*? tem coisa mais imperdoável do que aquilo? o perdão
venceu mais uma vez. venceu quando não tinha a menor chance de vencer. não
era o favorito na partida, mas venceu. e quem perde somos nós.

gente, machismo mata.

a campanha de todos os anos é de "16, ou 21, dias de ativismo pelo fim da
violência contra as mulheres"[2] e eu argumentei que a campanha deveria
ser "pelo fim da violência sexista", afinal a violência não é só contra as
mulheres, todxs sofremos com a violência sexista. mas realmente está
difícil argumentar. quem morre são as mulheres e quem vence é o perdão.

eu não perdôo.

e não venha me falar de intolerância. intolerante é o caralho. os
misóginos, lesbofóbicos, homofóbicos mundo a fora. se o valor é o
homem[3], então o perdão, tão valorizado, não tem nada a ver comigo. eu
sou contra o perdão.

peço ajuda às companheiras nessa campanha. quem sabe a gente melhora esse
texto, ou pensa nuns cartazes...


[1] http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=35583

[2] http://www.campanha16dias.org.br

[3] http://confabulando.naxanta.org/index.php?n=Main.OValor%c9OHomem


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A "crise amorosa" do Coronel Felix

A justificativa do coronel Eduardo Felix para explicar porque não atiraram
num sequestrador que se outorgou direito de morte sobre duas mulheres,
baseou-se no mito do amor: " é um garoto de 22 anos de idade, sem
antecedentes criminais e com uma crise amorosa". O criminoso, pois
sequestro é crime hediondo, motivado por ódio, transforma-se em um garoto
enamorado, nas mãos de quem o Coronel entregaria seu filho. O irmão de
Nayara, que sabia o que estava em cena, não entrou no cativeiro.

Em cena, o direito de propriedade ultrajado do macho sobre as fêmeas da
espécie. A mulher que se recusa a se submeter a essa lei é morta. É mais
uma a ingressar numa enorme lista. O Coronel tinha essa lei em mente.
Baseado nela, seu julgamento condenou Eloá à morte.

Não podemos deixar passar mais esse caso emblemático do pacto dos
patriarcas sobre a posse das mulheres. A imprensa foca em quem atirou,
como se não se
tratasse de machos se defendendo, não importa as consequências para as
mulheres.Tudo foi feito para poupar o criminoso. Até deixar a amiga entrar
de novo no cativeiro! E o Serra corroborando a ação da PM.

Crime passional não existe! A crime é a misoginia do sequestrador, dos
policiais, do governador e da mídia!
As mulheres morrem porque os homens odeiam quando elas são mulheres, elas
mesmas, em vez de SUAS namoradas, SUAS esposas, SUAS mães.Não se trata de
amor, trata-se de ódio. Ou isso fica claro ou nunca iremos dar conta da
"violência" contra a mulher.

ana reis/NEIM-UFBA

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Quem quer e não possui... mata porque ama!

“Quero Eloá, amo a Eloá”, essa é a frase que se tornou símbolo do crime
cometido por um homem violento e homicida. Frase que tirou o critério de
crime da situação e colocou em cena a figura do homem apaixonado e
desesperado pela falta do amor da sua vida.

Enquanto o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar
esperava durante longos cinco dias para saber se o homem violento e
homicida iria se entregar, as pessoas se perguntam porquê os policiais não
atiraram nele nas seis vezes que ele ficou na mira dos atiradores de
elite.Vejo algumas pessoas se perguntarem de quem Eloá foi vítima. Aquela
cegueira que tanto, nós feministas, denunciamos, ficou absurdamente
evidente nesse caso que torturou de expectativa e medo a população
brasileira.

O coronel da tropa de choque de São Paulo, Eduardo José Félix, diz que se
atirasse num rapaz de 22 anos em crise amorosa, todos julgariam que ele
matou um rapaz sem antecedentes criminais, trabalhador, por está
desesperado pela perda da namorada, sem nem ao menos esperar uma
negociação. Não só eu, mas acredito que muitas e muitas pessoas tremeram
ao ouvir a declaração do coronel, que ao invés de decidir cumprir seu
dever como policial, na defesa e proteção da vida das adolescentes
enclausuradas e ameaçadas, resolveu proteger o “pobre rapaz vítima de uma
crise amorosa”. Como as coisas podem ser tão distorcidas assim? Como se
permite, apesar de tanto treinamento e experiência, que uma refém volte ao
cativeiro?

O que mais me chocou, como ser humano, foi acompanhar Eloá viva na janela,
por várias vezes e depois vê-la, rodeada de policiais, com um tiro na
cabeça. O que mais me chocou como mulher, foi sentir o respeito pelo
“rapaz apaixonado” e o descaso pela vida das duas adolescentes que estavam
com o direito de viver ou morrer nas mãos de Lindembergue.

Na mídia e no ato passivo da polícia, ficou evidente que não se tratava de
um bandido nem de um criminoso, mas de um rapaz com o futuro inteiro pela
frente, que estava num momento de loucura. E onde fica o presente daquelas
meninas? Onde fica o futuro delas? Por que os outros reféns, rapazes,
foram logo liberados?

Em nenhum momento percebi o direito à vida ser discutido. O que se falava
era que elas eram lindas e inseparáveis, e Eloá a menina mais bonita da
escola. Ela é uma menina bela, ponto.

Como é que um homem maior de idade, que mantêm duas adolescentes de 15
anos na mira de uma arma de fogo em cativeiro por cinco dias, não é um
criminoso? Por que tanto respeito a ponto de invadir o apartamento com
balas de borracha apenas? As “balas de verdade” do “pobre rapaz” a vida de
Eloá, e deixaram marcas para sempre no rosto de Nayara.

Amor? Até quando as mulheres vão morrer por essa coisa estúpida e perigosa
que chamam de amor? Até quando os homens vão se sentir tão proprietários
da vida das mulheres a ponto de decidir se ela continua ou acaba?

Evidentemente que ele não tinha nada a perder. Como negociar com um
bandido se você não tem o que ele quer? Ele queria a propriedade sobre a
vida de uma mulher, suas decisões, seu afeto, sua vida... e já que ele, na
sua lógica, não a possuía mais, a penetrou e a feriu de morte com uma bala
em seu ventre, região da sexualidade e da vida. E para acabar com a
possibilidade enfim, dela continuar vivendo sua própria vida, suas
próprias decisões, o veredicto final do “pobre rapaz”: um tiro que
atravessou sua cabeça.

E por que ele teve tanta liberdade de decidir por isso? Porque ele é "o
cara, o príncipe do gueto", e príncipes costumam decidir quem vive e quem
morre.

Agora como consolo, a mídia mais uma vez faz aquele velho discurso: “os
órgãos da menina vão beneficiar pelo menos oito pessoas”, aquele discurso
da bondade, do “não foi tudo perdido”, a diretora do hospital declara: “a
gente acredita que vai ter grande sucesso. Apesar da dor da família, de
todo esse estresse emocional que esse seqüestro causou, a gente tem
alegria, com certeza, de fazer muitas pessoas que tinham o prognóstico
fechado viverem”.

Sucesso? Estresse? Alegria? Essas palavras me trazem aquela sensação de
filme já visto, do desvio das atenções, do apelo à doação de órgãos, o que
de fato é absolutamente legítimo, mas que neste caso não pode borrar a
atenção do assassinato de Eloá por um homem violento que se achava seu
dono.

Apesar de tudo, o delegado do caso, Luis Carlos dos Santos, ainda tem
muitas dúvidas antes de dar qualquer pronunciamento sobre a qualificação
do crime: “Precisamos saber principalmente o que o levou a tomar a decisão
de atirar nas vítimas”. Seria para rir se não fosse tão trágico!

Infelizmente, as mulheres ainda continuam lacradas, e neste caso, lacrada,
perfurada no útero por uma bala, eliminada da sua condição de “ser”, pelo
dono da situação, que decidiu que sem ser de sua propriedade, não havia
nenhum motivo para continuar viva, ela já não tinha mais nenhum valor.

Espero que, no julgamento ao menos, esse homem violento, homicida
premeditado e seqüestrador, seja visto como tal, e não como um
“trabalhador, calmo, amigo, companheiro e rapaz desesperado” como quer a
mídia e a polícia.

E eu fico aqui, me perguntando por que tanta condescendência com os homens
violentos e assassinos e tão pouco direito para as mulheres nessa
sociedade que se diz democrática.

Kaliani Rocha
kalianirocha@yahoo.com.br

___________________________________
Feminicídio ao vivo – o que nos clama Eloá

Maria Dolores de Brito Mota - Socióloga, professora da Universidade
Federal do Ceará

Maria da Penha Maia Fernandes – Inspiradora da lei Maria da penha 11340 e
Coordenadora de Honra da Coordenadoria da Mulher da Prefeitura Municipal
de Fortaleza.

Tudo o que o Brasil acompanhou com pesar no drama de Eloá, em suas cem
horas de suplício em cadeia nacional, não pode ser visto apenas como
resultado de um ato desesperado de um rapaz desequilibrado por causa de
uma intensa ou incontrolada paixão. É uma expressão perversa de um tipo de
dominação masculina ainda fortemente cravada na cultura brasileira. No
Brasil, foram os movimentos feministas que iniciaram nos anos de 1970, as
denúncias, mobilização e enfrentamento da violência de gênero contra as
mulheres que se materializava nos crimes cometidos por homens contra suas
parceiras amorosas. Naquele período ainda estava em vigor o instituto da
defesa da honra, e desenvolveram-se ações de movimentos feministas e
democráticas pela punição aos assassinos de mulheres. A alegação da
defesa da honra era então justificativa para muitos crimes contra
mulheres, mas no contexto de reorganização social para a conquista da
democracia no país e do surgimento de movimentos feministas, este tema vai
emergir como questão pública, política, a ser enfrentada pela sociedade
por ferir a cidadania e os direitos humanos das mulheres. O assassinato de
Ângela Diniz em dezembro de 1976, por seu namorado Doca Street, foi o
acontecimento desencadeador de uma reação generalizada contra a absolvição
do criminoso em primeira instância, sob alegação de que o crime foi uma
reação pela defesa da "honra". Na verdade, as circunstâncias mostravam um
crime bárbaro motivado pela determinação da vítima em acabar com o
relacionamento amoroso e a inconformidade do assassino com este fim. Essa
decisão da justiça revoltou parcelas significativas da sociedade cuja
pressão levou a um novo julgamento em 1979 que condenou o assassino. Outro
crime emblemático foi o assassinato de Eliane de Grammont pelo seu
ex-marido Lindomar Castilho em março de 1981. Crimes que motivaram a
campanha "quem ama não mata".

Agora, após três décadas, o Brasil assistiu ao vivo, testemunhando, o
assassinato de uma adolescente de 15 anos por um ex-namorado inconformado
com o fim do relacionamento. Um relacionamento que ele mesmo tomou a
iniciativa de acabar por ciúmes, e que Eloá não quis reatar. O assassino,
durante 100 horas manteve Eloá e uma amiga em cárcere privado, bateu na
vitima, acusou, expôs, coagiu e por fim martirizou o seu corpo com um tiro
na virilha, local de representação da identidade sexual, e na cabeça,
local de representação da identidade individual. Um crime onde não apenas
a vida de um corpo foi assassinada, mas o significado que carrega – o
feminino. Um crime do patriarcado que se sustenta no controle do corpo, da
vontade e da capacidade punitiva sobre as mulheres pelos homens. O
feminicídio é um crime de ódio, realizado sempre com crueldade, como o
"extremo de um continuum de terror anti-feminino", incluindo várias formas
de violência como sofreu Eloá, xingamentos, desconfiança, acusações,
agressões físicas, até alcançar o nível da morte pública. O que o seu
assassino quis mostrar a todas/os nós? Que como homem tinha o controle do
corpo de Eloá e que como homem lhe era superior? Ao perceber Eloá como
sujeito autônomo, sentiu-se traído, no que atribuía a ela como mulher (a
submissão ao seu desejo), e no que atribuía a si como homem (o poder sobre
ela – base de sua virilidade). Assim o feminicídio é um crime de poder, é
um crime político. Juridicamente é um crime hediondo, triplamente
qualificado: motivo fútil, sem condições de defesa da vítima, premeditado.

Se antes esses crimes aconteciam nas alcovas, nos silêncios das
madrugadas, estão agora acontecendo em espaços públicos, shoppings,
estabelecimentos comerciais, e agora na mídia. Para Laura Segato[i] é
necessário retirar os crimes contra mulheres da classificação de
homicídios, nomeando-os de feminicídio e demarcar frente aos meios de
comunicação esse universo dos crimes do patriarcado. Esse é o caminho para
os estudos e as ações de denúncia e de enfrentamento para as formas de
violência de gênero contra as mulheres.

Muita coisa já se avançou no Brasil na direção da garantia dos direitos
humanos das mulheres e da equidade de gênero, como a criação das
Delegacias de Apoio às Mulheres – DEAMs, que hoje somam 339 no país, o
surgimento de 71 casas abrigo, além de inúmeros núcleos e centros de apoio
que prestam atendimento e orientação às mulheres vítimas, realizando
trabalho de denúncia e conscientização social para o combate e prevenção
dessa violência, além de um trabalho de apoio psicológico e resgate
pessoal das vítimas. Também ocorreram mudanças no Código Penal como a
retirada do termo "mulher honesta" e a adoção da pena de prisão para
agressores de mulheres, em substituição às cestas básicas. A criação da
Lei 11.340, a Lei Maria da Penha, para o enfrentamento da violência
doméstica contra as mulheres.

Mas, ainda assim as violências e o feminicídio continuam a acontecer.
Vejamos o exemplo do Estado do Ceará: em 2007, 116 mulheres foram vítimas
de assassinato no Ceará; em 2006, 135 casos foram registrados; em 2005,
118 mortes e em 2004, mais 105 casos[ii]. As mulheres estão num caminho
de construção de direitos e de autonomia, mas a instituição do patriarcado
continua a persistir como forma de estruturação de sujeitos. É preciso que
toda a sociedade se mobilize para desmontar os valores e as práticas que
sustentam essa dominação masculina, transformando mentalidades,
desmontando as estruturas profundas que persistem no imaginário social
apesar das mudanças que já praticamos na realidade cotidiana. O comandante
da ação policial de resgate de Eloá declarou que não atirou no agressor
por se tratar de "um jovem em crise amorosa", num reconhecimento ao seu
sofrer. E o sofrer de Eloá? Por que não foi compreendida empaticamente a
sua angústia e sua vontade (e direito) de ser livremente feliz?

[i] SEGATO, Rita Laura. Que és um feminicídio. Notas para um debate
emergente. Serie Antropologia, N. 401. Brasília: UNB, 2006.

[ii] Dados disponíveis em:
http://www.patriciagalvao.org.br/apc-aa-patriciagalvao/home/noticias.shtml?x=1076

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Eloá. O que as mídias e os especialistas não discutem
Sábado, 18 de Outubro de 2008

Há menos de 24h do trágico desfecho do seqüestro de Eloá Cristina
Pimentel, por Lindemberg Alves, todos atônitos procuramos “compreender”
via mediação dos meios de comunicação social e de especialistas da
segurança pública, psicólogos, e outros, um fato presente cotidianamente
no noticiário: o assassinato de mulheres.
Muitas são as explicações que tentam dar conta do comportamento do jovem,
cujo perfil durante o processo de negociação fora retratado pelos meios
como de um rapaz tranqüilo, trabalhador, que tinha planos para casar.
“Dificuldade de lidar com as frustrações”; “comportamento passional”, “de
tolerância muito baixa às frustrações”, entre outros argumentos são
discutidos publicamente em jornais, sites, rádio, enfim, em todo processo
de agendamento desta lamentável crônica de mais uma tragédia midiatizada.
Inúmeros aspectos deste acontecimento são ressaltados na cobertura: o
lugar, os protagonistas, o tempo, amigos, imagens, os momentos de
negociação, os lugares de origem de Eloá e Lindemberg, as imagens...
Todavia há um aspecto a ser considerado nesta notícia, e que passa
intocado na cobertura de crimes que possuem semelhança com o homicídio de
Eloá, o fato de que eles se relacionam com as desigualdades de gênero. Se
nos negarmos a discutir também nos noticiários esta face da violência,
será muito difícil à superação de algo que pode ser considerado,
lamentavelmente, um padrão cultural vigente, a prática de crimes contra as
mulheres.
Um breve monitoramento de mídia permite perceber a brutalidade e
reificação de crimes como estes: eles não são apenas crimes passionais,
podem ser situados numa teia complexa de construção de valores sociais que
forjam um feminino fraco, vulnerável, incapaz e sem condições de decidir a
própria vida, em contraposição a um modelo de masculinidade rígido e
legitimado socialmente a partir da força, da dominação e do controle. São
de certa maneira estes alguns dos elementos que mantém os mecanismos
psíquicos do poder na constituição do sujeito e a na construção da
sujeição.
Perceber os gêneros como processo de mediação do social é urgente para nos
darmos conta da violência contra a mulher como um fenômeno social cujo
aparecimento cotidiano nas mídias também precisa ser interpretado,
refletido com e a partir dos veículos de comunicação e tendo como foco o
papel social dos profissionais de imprensa.
A motivação de Lindemberg em manter seqüestrada Eloá e tentar por fim a
vida da jovem se inter-relaciona com outros fatos conhecidos da sociedade
brasileira, como os assassinatos de Ângela Diniz, Sandra Gominde, Daniela
Perez, e ainda de inúmeros casos de violência e homicídios femininos que
são noticiados, mas que carecem não de uma tentativa de tentar compreender
o comportamento masculino, mas de questionar os valores sociais que se
reproduzem nas trocas simbólicas e tecem ainda, tristemente, este
predomínio do falo que oprime e extermina.
O tiro na virilha de Eloá não é só uma metáfora, mas uma expressão do ódio
da tentativa frustrada de continuar mantendo o exercício do controle sobre
o corpo das mulheres, por isto me sinto hoje também transpassada por esta
bala.
Numa das notícias veiculadas sobre o Caso Eloá, dois personagens
sobrenaturais surgiram: um anjinho e um diabinho que acompanhavam
Lindemberg. Parece inacreditável, mas este recurso, muito comum entre
homens que praticam violência contra as mulheres, aparece mais uma vez
como uma máscara, uma performance que busca esconder o lado perverso de um
imaginário social que em momentos como este é despertado pelos disparos
protagonizados por um homem que representa os mecanismos simbólicos
forjados socialmente e que negam cotidianamente às mulheres o seu direito
a vida.

Sandra Raquew dos Santos Azevedo, jornalista.

http://etnografiasdoinvisivel.blogspot.com/2008/10/elo-o-que-as-mdias-e-os-especialistas.html
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