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Entrevista Com Ricardo Liper

1– Homossexual, bissexual, heterossexual, pansexual, transexual, gay, lésbica....GLBTS: tamanha é a sopa de letrinhas para catalogar a sexualidade humana. O que há por traz disso? (ou: quem é o interessado nisso tudo?)

As elites dominantes, para confundir. Nada disso existe. O ser humano pode sentir prazer de muitas maneiras e os menos medrosos escolhem livremente o que está lhe dando mais prazer no momento e ele viciou nesse tipo de prazer. O que se observa é que o sexo com o mesmo sexo na espécie humana é muito freqüente e se não for reprimido ocorre muito.

2 - Qual a opinião a respeito das construções de gênero por nossa cultura? Você está satisfeito?

Não. A construção de gênero se alienou. Quer dizer, é usada para justificar uma série de fantasias e interesses políticos que nada tem a ver com gênero.

3 - Ao longo de seu livro encontramos várias auto-afirmações do gênero masculino, como por exemplo: “compreendi que a masculinidade foi uma resposta que os homens deram a hostilidade do planeta". Isso não soa opressivo, tendo em vista que os valores masculinos vigentes - inclusive os capitalistas - foram criados pelos homens? Aonde, nesse contexto, se encaixa a feminilidade?

Não vejo assim. Não oponho masculinidade e feminilidade. Quem faz isso são as feministas por razões políticas. E quem cria o gênero é a hostilidade da vida. Os homens se construíram como homens para sobreviver e as mulheres se constituíram como mulheres pelo mesmo motivo. Em alguns momentos da história os gêneros foram usados pelas classes dominantes para explorar as pessoas. Oprimindo as mulheres e descaracterizando o gênero feminino e mandando os homens morrerem em guerras de conquistas. Não acho que os homens criaram o capitalismo a partir de valores masculinos. O império inglês muitas vezes foi administrado por mulheres. O que é preciso se ter coragem é dizer que existem muitas coisas positivas no gênero masculino e feminino que não devemos jogar fora. O espartano descobriu isso. Ele gosta de ser homem, o que não significa desprezar a mulher. Uma coisa não tem nada a ver com a outra ou com o andrógino. Ele quer ter o direito de ser homem, gostar de ser homem, manter suas características comportamentais, iconográficas, corporais sem ser oprimido, censurado, descacterizado, chamado de fascista, opressor por tem prazer de ser homem. Não se pode ser masculino com vergonha porque virou no politicamente correto achar o neutro ou o andógino o correto. Ao que parece a questão está invertida. Quem quer ser homem hoje é violentamente censurado, descaracterizado e obrigado a si explicar como eu estou fazendo agora.

4- O que é o coletivo Espartano e a Tradição Espartana? Porque apenas os homens maiores de 18 anos podem participar?

Porque é proibido por lei menores de 18 anos terem contato sexual com o mesmo sexo no nosso país. Não poderíamos tornar os coletivos espartanos vulneráveis a uma imensa repressão a partir daí.

5- “O Espartano [...] Não cultua modelos femininos”. “O Espartano [...] Procura acentuar cada vez mais sua diferença corporal em relação às mulheres”. “Vi alguns otários que já estão depilando debaixo dos braços como as mulheres”.(http://www.espartano.ufba.br/diferenca_comportamento.htm) Qual é a relação entre a Tradição Espartana e a misoginia?

O que existe é sexo entre homens. Se se altera esse fato se cria outra coisa. Sei que pode ser mal interpretado mas nada tem a ver com misoginia. O que os espartanos querem é manter o gênero masculino como ele é com todas as suas características porque não querem androginizar-se. Tornar-se um gênero neutro que é o que os moralistas ou oportunistas querem. O receio dos espartanos é que por culpa ou modismos culturais se imite sempre o sexo entre pessoas de sexo e gênero diferentes, perdendo assim sua característica essencial que é ser sexo entre pessoas do mesmo sexo e gênero. Ele acha uma opressão, se ele gosta de se relacionar com outros homens, alterar sua masculinidade. Entende que a androginia é compreensível entre um homem e uma mulher para ela não ser oprimida por ele mas entre dois homens é perder a razão de ser. Seria misoginia se criticasse o fato de uma mulher depilar-se. O que se critica é um homem depilar-se em excesso ou efeminar-se. Por que o homem teria de deixar de ser homem? Porque é politicamente correto isso atualmente. Confunde-se masculinidade com patriarcalismo. Esse é um grande equívoco. É não saber o que é o gênero masculino.

6- “Não vou dizer o contrário, sendo insincero, para ser conveniente, estar na moda e ser agradável a esta mesma suposta intelectualidade pequeno-burguesa que anos atrás se dizia marxista. Que hoje, após a queda da URSS, tornou-se pós-moderna, feminista, ecológica, esotérica, cristã, pró-muçulmana, GLBT, queer ou puramente oportunista e capitalista como muitos deles, sob várias máscaras e fantasias, sempre foram.” O que o feminismo e o queer tem a ver com “a suposta intelectualidade pequeno-burguesa”?

Alguns dos seus mais notórios representantes vieram de correntes autoritárias do marxismo. Quando têm oportunidade ocupam cargos e mudam de pensar como quem muda de roupa. Esses modismos culturais mais ou menos filosóficos pregam um descompromisso com tudo e com todos que abre as portas para o oportunismo e a procura de posições mais claras e firmes. O espartano é um homem que mantém-se homem, estuda a masculinidade e faz sexo com outro igual a ele. A partir daí procura construir sua personalidade. Não é algo assim muito fluído que pode-se tudo e depois se termina nos braços do poder ou do oportunismo o mais barato possível.

7- Apesar de fazer a seguinte critica: “é um grande equivoco se tomar a caricatura da masculinidade, resultado de contradições sociais e históricas especificas, pela masculinidade verdadeira, seus ideais e princípios”, para se referir a androginia faz-se a caricaturização da mulher: “O Espartano [...] Jamais vai aparar as sobrancelhas como as mulheres fazem, usar brinquinhos, pulseiras, cores berrantes ou femininas, piercing, coisas muito extravagantes”(http://www.espartano.ufba.br/oscomponentes.htm). Como você explica essa contradição?

Não é contradição. O que o espartano zela é para ele manter as características culturais do seu gênero sem imitar outro gênero, assim como acha que as mulheres não deveriam imitar os homens. E ser homem para ele é não ser fascista, agressivo, patriarcalista etc. Isto é que é uma caricatura. É ser homem no sentido em que guerreiros como os samurais, templários, cavaleiros medievais foram. Justos, éticos, honestos. Não se pode confundir, a versão pequeno-burguesa de homem que conhecemos é deplorável com o gênero masculino e aí o esculhambar. É miopia.

8 - “Considero-me um neo-anarquista”. Em que se baseia esse neo-anarquismo e a sua idéia de um partido anarquista?

Resumidamente é uma reflexão sobre o sentido e o conceito de Estado. No século XIX quando o anarquismo foi elaborado o Estado era imperialista e totalitário. A sua destruição era o óbvio para se ter socialismo e liberdade. Na atualidade, principalmente nos países da Escandinávia, o Estado é mais um organizador da sociedade do que um órgão repressor. As populações garantiram no decorrer da história, retiram do Estado, a sua liberdade em vários setores. A Holanda por exemplo. Então pode-se se pensar uma sociedade sem Estado mas com o órgão administativo semelhante ao que essas democracias chegaram. Há algum tempo atrás achei que seria melhor organizar os anarquistas em um partido que visasse levar a sociedade a essa forma extrema de democracia que é de uma certa maneira anarquia organizada. O que me incomoda um pouco é a inação dos anarquistas. Mas hoje, devido a extrema corrupção dos políticos de todos os partidos acho que os anarquistas estão corretos. Há outras maneiras de mudar a sociedade. Não precisamos de partidos. Só iríamos atrair picaretas de todos os tipos. ' 9 - Como professor você acha que institucionalmente pode-se chegar a ser posta em prática alguma forma de pedagogia libertária?'

Sim. De uma certa maneira a autoridade do professor é muito menor do que há alguns anos atrás.

10- No endereço espartano.net encontramos as seguintes citações: “O espartano [...] Jamais maltrata crianças, mulheres, idosos, animais, os mais fracos ou qualquer tipo de pessoas que não lhe agrida ou coloque em risco sua sobrevivência. Possui ética”.“A Alimentação sugerida [ao espartano]: [...] Muitas frutas, muitas verduras e poucas carnes e, quase nunca, carne vermelha”. Comer carne é ético?

O problema é que o espartano segue a dieta dos antigos guerreiros e ele se baseia, além disso, no que a ciência diz. Carne vermelha em grande quantidade faz mal ao homem porque entope suas artérias do coração e do pênis. Antes que você reclame, faz mal também ao coração das mulheres e lhes causa infartos. O espartano quer ser saudável, forte, equilibrado. Não é uma questão de ética. E claro que um espartano podendo não matar para comer se sentiria melhor.

11- “Assim sendo nenhum dos dois pode ter outro compromisso com namoradas, noivas, esposas”. (http://www.espartano.ufba.br/oscomponentes.htm) Os espartanos são homossexuais autro-controlados, racionais e sóbrios?

Os espartanos não são homossexuais, que é um conceito inventado no século XIX e não tem porque se assumir. Eles não precisam ter namoradas ou mulheres porque não seguem uma programação para serem pais de família. Têm coragem de assumir que são homens que fazem sexo com outros homens. Quer dizer, não pretendem enganar noivas, mulheres e ter uma vida dupla como muitos fazem dizendo que gostam de serem assim quando estão apenas aliviando sua culpa.

12 - Espaço aberto para que você faça e responda a alguma pergunta que sempre teve vontade de responder mas ninguém ainda perguntou.

Agora você me pegou. Vamos tentar. Você não tem medo do que diz? Não. Sei que pode parecer mal interpretado, que criou um problema porque está contra a corrente tocando em pontos sensíveis como a questão de gênero e da aceitação de uma suposta diversidade irmanada em interesses comuns. Outra coisa antipática é criticar a heterossexualidade que até mesmo os mais irreverentes e socialistas não deixam de puxar pelas mãos suas namoradinhas. O Estado, o capitalismo, tudo pode ser criticado menos ter uma namorada. Bem, meu compromisso maior é com a realidade e a ciência. Eu não pude recuar e aceitar que os homens nascem para fazer filhos e gostam de mulher. Durante anos pesquisando e observando o comportamento sexual masculino não confirmei isso. Me desculpem, eu mesmo fico sem jeito, gostaria que fosse diferente, que alguns nascessem homossexuais outros heterossexuais e que a luta só fosse para convivermos com respeito e democraticamente de mãos dadas nas paradas Gays. Só que não temos estro, só que todo mundo gosta de sacanagem, quando pinta o clima rola tudo a não ser que tenha-se um medo violento da opinião dos vizinhos, parente e amigos sobre o que se está fazendo. A única coisa que posso pedir é desculpa por dizer coisas tão chatas, que não poupa ninguém e atinge a espinha dorsal da fabricação da mão de obra e portanto do acúmulo do capital. Eu mesmo, algumas vezes, fiquei perplexo quando li sobre o comportamento sexual da nossa espécie e pude ver os homens se comportando de maneira hipócrita e desconcertante. Mas paciência, não fui eu quem inventei a espécie humana e a evolução da nossa espécie quis que fosse assim ,então, minha cara, é uma questão de inteligência relaxar e gozar.

Entrevista feita por dois-corpos@hotmail.com e publicada no zine trio-q@hotmal.com

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Pagina modificada em 11 de May de 2008, às 15h07