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Fraturas Da Masculinidade

História de Main.FraturasDaMasculinidade

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15 de April de 2008, às 13h39 por 201.20.227.123 -
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as fraturas da masculinidade

O tema masculinidade é um grande embaraço para homens, “como é tua masculinidade?” – “ora, que pergunta é essa!” Essa resposta é o que se ouve por aí quando se faz aquela pergunta. Engraçado, sempre pensei sozinho e calado: “por que a minha é um extremo mar de caos e indecisões?” “Essa merda de dúvida só acontece comigo?!?!” e a essa altura do texto, com cinco linha apenas, alguém já sorriu e pensou: “O cara é gay!” Por sermos o sexo-que-é as outras determinações é que têm de se diferenciar da gente: A diferença entre a regra e a exceção é que a exceção tem que ser justificada, a regra não – Bobbio.

A verdade é que como homem a obrigação de ter e exercer poder é algo impositivo, outorgado, para aqueles que quiserem ser “homens”. Ação, agressão, dominação, invasão, o que a primeira vista parece privilégio. Dominar outros homens e mulheres, quer exemplo maior que as grandes e pequenas guerras? Simplesmente temos que fazê-lo. Lembro-me de todas minhas interações de adolescente e adulto também, linguajar, brigas simuladas, sentir-se coagido a encher o saco de uma mina, quando fosse transar bastava uma rola dura meter naquele lugar e dormir, e puxa, sempre quis ser tocado também, e queria dar prazer para minha companheira. Lembro que sempre fui humilhado e dominado por não ter esse papel agressivo nas relações, seja com homens seja com mulheres, a minha primeira transa foi hilária, ou será que daria um drama?!?! E também apanhei muito no colégio. Pensei: “será que sou gay?” De cara veio um medo de sofrer mais ainda, de apanhar do sistema, mas depois, visto que eu não ganhava nenhum dos prêmios oferecidos aos que participavam dos jogos sociais, não tive tanto receio em me imaginar gay, peguei raiva do jogo, do mundo masculino chato que me cobrava desempenho (e ainda me cobra) o tempo todo.

Sabe-se que desde o início da história, desde o gênesis bíblico (um nojo) esses papéis se reproduzem, o homem ativo e agressivo, etc. todos tendo e exercendo poder, isso é exigido, e é um porre. Não me venha com essa de que nós homens não expressamos nossos sentimentos, MENTIRA!! “Homens, expressaram seus sentimentos sobre as mulheres, a morte, pais ausentes e assim criaram as religiões. Os homens expressaram seus sentimentos sobre mulheres, riqueza, possessão e territorialidade e transformaram esses sentimentos em leis e estados. Os homens expressaram seus sentimentos sobre mulheres, assassinato, a masculinidade de outros homens e destes sentimentos surgiram batalhões e bombas. Os homens expressaram seus sentimentos sobre mulheres, fodas e irritação feminina para além do controle e destes sentimentos surgiu a psiquiatria. Os homens institucionalizaram seus sentimentos, de modo que se um particular homem está sentindo o sentimento em um dado tempo ou não, o sentimento está sendo expresso pelas instituições que os homens criaram” (Recusando ser um homem - John Stoltenberg).

Ocorre que o discurso não se reproduz mecanicamente, são as estruturas cognitivas, as estruturas de compreender o mundo dadas pelo mundo mesmo que facilitam essa ordem, faz sentido dominar para umas pessoas, faz sentido ser dominado (a) para outras, não é uma simples tomada de consciência que mudará o rumo da história, conforme algumas linhas marxistas, no entanto como comportamentos afetivo-sexuais diversos se revelariam numa sociedade tão repressora? O discurso do ideal masculino (a propaganda, novela, cultura, etc.) é tão difícil de ser alcançado que gera fraturas no tipo masculino(porque este está em franca decadência), como ocorreu comigo, simplesmente não há como chegar a esse tipo ideal, e o jogo impõe vitória ou DERROTA, sem meio termo, e a dor de ser derrotado é muito foda, como disse antes, as pessoas te passam isso, te apontam como o derrotado, e às vezes rola auto punição, ou seja, o discurso opressor introjetado no(a) oprimido(a), e essa parte é foda: perceber que a tua identidade foi colonizada, que tua fala não é tua, que teus olhos e sentimentos obedecem outras ordens, não às tuas, e que as tuas vontades sequer existem!! Percebi isso: o discurso de que o destino social seja transformado em “vocação da liberdade” ou em “mérito pessoal” da pessoa(eu sei e escolho, dons), serve para nos convencer que nós mesmos (as) escolhemos ou conquistamos os destinos que, de fato, a necessidade social antecipadamente nos assinalou. Na verdade “o que separa a auto-eliminação a longo prazo da eliminação imediata que tem como base uma previsão das oportunidades objetivas de eliminação, é o tempo que é preciso no primeiro caso para que excluídos se persuadam da legitimidade de sua exclusão”(Bourdieu, P. A reprodução). E vejam só: é muito cômodo assumir a posição masculina na sociedade sem se ver como excluído, pois vivemos em uma sociedade machista basta eu assumir “minha identidade” (representação) previamente posta, cheia de privilégios, e “ser feliz”. Só que sinto que sou excluído de mim mesmo, que sou forçado a ter intenções que eu não estou completamente convencido de as ter! Sinto que tenho minha identidade masculina raptada a todo momento! Caralho, tentaram me fazer negar minha sensibilidade!! “Vencedores” como tipos ideais existem poucos, que também não são melhores nem piores, são um tipo de homem, e isso que quero dizer. UM TIPO DE HOMEM. Existem vários homens, de diferentes identidades, e, torço eu, trans identidades que se perdem na corrida pelo IDEAL, causando mais transtorno, mais dor. Adoro mulheres, mas amo o carinho masculino, transo com mulheres, não gosto de transar com homens, mas sinto falta de intimidade e cuidado masculino, sou sensível e carinhoso (é o que dizem, não sei ao certo.) personalidade feminina. . .NÃO! Sou um homem assim: sensível e carinhoso. É como se minha identidade aproximada do que se diz “feminina” (conheço minas insensíveis, “duras”, enfim, minas.) me impusesse o homossexualismo como resposta, por ter uma identidade “feminina” eu deveria gostar de homens, é uma pena, mas não é assim que me sinto, talvez me sinta um dia, seria legal, mas não é o que sinto agora, digo “agora” pela bagunça que é minha identidade, super fragmentada, e isso se deve ao fato de propagarmos esse ideal estúpido de masculinidade inalcançável e não nos atermos às nossas próprias complexidades e vulnerabilidades (distribuímos desigualmente vulnerabilidades), com medo de perdermos uma identidade que sequer temos, o que me impediu de refletir com alguém sobre o que eu estava passando, me deu medo, medo de mais agressões, de invasões(conforme no filme Garotos não Choram) senti de fato o medo como fenômeno político. Tenho que procurar outros caminhos onde eu pudesse exprimir minha sensibilidade, os campos masculinos são difíceis para tanto. Faz-me lembrar da desigual distribuição de auto estima e da frustração: precisamos ficar tristes e resignar-mos ao revés de ficarmos putos (as) com a nossa opressão, ser hetero, ter pele clara, o pedigree de classe média, dinheiro, a masculinidade, tudo isso facilita a aceitação de pensamentos e comportamentos, é o tal do discurso competente reproduzido por quem “fala” e esperado por quem “ouve”, quem não é assim carregamos de frustração.

Isso é um absurdo de repressão, a atitude machista, creio eu, é a mais reacionária e conservadora de todas. O que me parece bem razoável é o conceito de habitus de Pierre Bourdieu, enfim, tenho o hábito de ser hetero, pois as estruturas cognitivas por mim herdadas dizem que isso é assim, reproduzo inconscientemente uma ordem pré-estabelecida, pois isso faz sentido pra mim, tenho privilégios e me sinto bem, o mundo me deu as ferramentas para compreendê-lo, como alguém que espera ser ordenado (a), mas isso não ocorre com todo mundo mecanicamente (tenho problemas até com o caminho e o climax de minhas punhetas, e elas funcionam claramente como compensação, além de crises com as posições sexuais), por isso comportamentos “desviantes” (transgressores!) que ao final das contas se fazem mais presente que o modelo hegemônico de masculinidade aparecem. Parece-me que o lance da virilidade está mesmo ligado a uma construção relacional, diante e para outros homens e contra a feminilidade, como se fosse medo do feminino. Porra, meu desejo foi colonizado pelo regime heteropatriarcal, e me parece que só destituindo meu desejo desse viés posso me sentir e viver mais livre, como desejar sem heroísmo? Sem querer dominar? Ou querer entregar, sem excluir. Parece que nosso regime de desejo está sempre às turras com o modo como gostamos das pessoas e o jeito que criamos afeto; se nos atrai logo tem que ser anexado, domado. O afeto, freqüentemente separado à ferro e fogo do que podemos desejar, pode ser um elemento de resistência; pode ser a fonte de uma utopia, “pode”, não: É. GLBTS, a sopa de letrinhas que poderia ficar infinitamente maior: considero-me lésbico, por exemplo, uma identidade feminina presa a um corpo masculino, e gosto de transar com minas, por outro lado adoro o carinho masculino, digamos que afetivamente “corto pros dois lados”. Um saco esse enclausuramento de subjetividade, impondo como desejar e ser desejado (a). Parece que o desejo sempre tem uma ligação estranha com a pulsão de morte(assassinatos, suicídios por “amor”), tristeza e depressão, ao mesmo tempo erotizamos o poder, caralho, que caminhos são esses? Algumas pessoas dizem que o desejo masculino é de dominar e o feminino é de ser dominada, que a mulher é dependente simbolicamente do homem, que “os homens são identificados por seus desejos, sancionados por outros homens e por mulheres que permitem e encorajam cada homem a ser seu desejo, e a pensar que têm direito de vê-lo satisfeito”, e que casais homos reproduzem o tipo papai/mamãe, blá, blá, blá e OK, tá bom. Uma coisa é dizer que o mundo em que vivemos foi estruturado dicotomicamente, nele aparecendo homens e mulheres com características opostas e diferentemente valoradas, fruto de um domínio simbólico masculino com raízes muito profundas, outra é dizer que homens e mulheres, de fato encaram linearmente as oposições que foram simbolicamente construídas, como se se tratasse de personagens sem qualquer capacidade de distanciamento em relação a uma série de papéis que lhes foram, ou são, tradicionalmente atribuídos.Vejo que o inconsciente androcêntrico foi construído social e historicamente, e, em diálogos em diversos campos (rua, escola, etc.), percebe-se a naturalização do agir e pensar androcêntrico. Naturalização é o oposto radical de liberdade, e serve aos interesses dominantes, conseqüentemente legitima a ordem social posta, e para manter meus privilégios de heteropatriarca safado, nada melhor que chamar a natureza para tornar cômoda todas as minhas tomadas de posição, fácil e cômodo, mas não sou assim, não me sinto assim, estou angustiado por outras saídas e possibilidades, quero libertar e ser livre! A reconstrução do inconsciente masculino depende de “uma transformação das suas condições históricas de produção” (G. Deleuze e Guattari, 1980:27), não de reprodução de comportamentos e formas de pensar que não são minhas!! Decorre disso que a liberdade afetivo/sexual necessita obrigatoriamente da liberdade política. Ainda que eu perceba a existência humana completamente ausente de sentido e tendo como única certeza a morte (e os impostos!), sempre vejo o mundo experimentado como caos, isso é, não-linearidade, prezo a diversos nadas possíveis, sendo claramente possível/permitido vivermos nossas diversidades para além de diferenças fisiológicas homem x mulher, mas X masculinos e X femininos em constante (re)construção! Seria bom buscarmos o cuidado com o (a) outro (a) que não põe em jogo a afirmação e a aceitação de si mesmo (a) e de quem quer que seja, pois eu sei que a dúvida não é só minha, e que a certeza é uma verdade não confrontada. (Ah sim, “ENTRE UMA PICA E UMA BUCETA” foi um tema legal que achei, tentando dar uma espécie de trans identidades que variam dentro e fora dessa definição reducionista de “pica-homem” e “boceta-mulher”.).
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