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Marcas Somos Todas

marcas somos todas.

entendemos que o marcos se estabelece como uma marca que simboliza-se - no seu sentido mais interessante - como um corpo passa a significar uma multiplicidade de corpos... não importando que forma, que cor, que sexo ele comporta. O que importa é que uma coletividade de corpos se disponibiliza através de uma marca/máscara para significar sua impessoalidade, sua transitoriedade, seu trânsito.

para cada grande evento, para cada grande movimento, um grande homem. há aí uma série de chavões e uma certa personificação da história. O que pode ser entendido como um recurso didático que, a nomear e pontuar alguns momentos e pessoas (homens) torna mais fácil a impregnação e veiculação de um conjunto de idéias e acontecimentos. Mas é também um recurso que invisibiliza. Apaga e/ou camufla uma identidade que se forjou e que se forja cotidiana e coletivamente.

Quando usamos a expressão "pessoas de cor", estamos dizendo que as pessoas brancas não têm cor? Se a gente chama as pessoas negras (ou indígenas, ou pardas, ou orientais...) de "pessoas de cor", a gente está dizendo que as pessoas brancas são incolores. E é só reparar direito pra ver que não é verdade. Todas somos pessoas de cor, ninguém é sem cor. Então porque umas cores são marcadas como cor e outras não? Porque à uma cor é atribuída uma marca, e a outras uma neutralidade? Quem foi que decidiu que a cor branca é a cor neutra? E daí a gente pode fazer um monte de questionamentos nesse sentido, por exemplo, quem decidiu que o o genérico masculino é neutro? Que a hetoressexualidade é normal e que o lápis rosa-esbranquiçado da minha caixinha de lápis de cor é cor-de-pele? Quem decidiu que uma cor é a cor da pele e que as outras cores são cores diferentes? Quem marcou uma cor e não marcou outra?

Parece até aquela expressão da infância , "tia, fulaninha está me marcando, está de marcação comigo". Marcar está aí num sentido bem negativo, e esse sentido negativo que eu queria mostrar mesmo: está marca que foi dada a algumas coisas é uma marca estigmatizada, ela traz com ela uma carga que reduz as pessoas a esta marca. A pessoa marcada é reduzida a sua marca. Deixa de ser pessoa.

Pois bem, continuando esse raciocínio, a gente começa a pensar, quem são então essas pessoas que estão marcando umas para parecerem neutras, desmarcadas? É todo homem branco, hétero, possuidor? Se não existem pessoas desmarcadas, se todas as cores são cores, se todas são Marcas, então fica difícil identificar esse inigmo. Essa é uma parte muito perversa dessa marcação. Ela está naquele velho exemplo, "existe machismo? existe. você é machista? não". Quem é o nosso inimigo afinal de contas? Bom, esse é um ponto pra pensar. Outra coisa que a gente pode observar nessa marcação é que parece que umas pessoas, mais desmarcadas que as outras, são mais livres. A marcação fixa, nos reduz à marca, nos prende e sufoca. Ser mulher é isso, é aquilo, é aquilo outro. Existe o lugar da mulher, "lugar de mulher é na cozinha" e por aí vai. Lugar de pobre é na praça de alimentação? As Marcas impedem o nosso trânsito. Quer dizer então que essa marcação serve pra nos prender, pra escolher quem transita por onde.

Penso que se não dá pra apontar alguém completamente livre de Marcas (o tal homem branco, hétero, possuidor, não tem também um lugar marcado?) a gente pode pelo menos apontar que essas marcações servem a um sistema que não está interessado em pessoas que transitam livremente, um sistema que usa essa marcação pra se manter.

Mas existem movimentos de resistência a essa restrição de transitar livremente, esses movimentos podem funcionar de várias maneiras, uma delas é pela reafirmação, pela retomada das Marcas tidas como negativas. A marca deixa de ser prisão e passa a ser local de resistência, de existência. É a cozinha resignificada, como gosta de dizer o krap, feminismo na cozinha, como andam dizendo umas do kk. Esses movimentos não só reclamam o poder de auto-afirmação de nossas Marcas como questiona a neutralidade de uns, que deixa de ser um pra ser outro também. E aqui eu não estou nem colocando "outra", porque a outra é tão tirada que nem entra na história.

É por isso que quando a gente fala "os trabalhadores e as trabalhadoras", não estamos apenas colocando as mulheres no retrato, mas estamos marcando os homens como diferentes também – como gênero não neutro. Quando percebemos que "somos todas marcas" ou que não existem corpos desmarcados, começamos a questionar o trânsito livre de um corpo em detrimento de outros corpos.

Diferença entre carregar Marcas e ser carregadas por elas, desviar das Marcas que são impostas como carimbos que aprisionam e pensar em Marcas como possibilidade de uma base de solidariedade. todos somos marcadas a partir dessa(s) marca(s) como um chão, uma posição que permite falar com outra posição, outro chão, em que as pessoas podem compartilhar experiências. Há momentos em que é estratégico me afirmar lésbica ou vegana, seja como resistência, luta, ou como forma de construir uma solidariedade com pessoas que compartilham ou se dispõem a compartilhar essa luta e essa experiência. Pode existir alteridade e não diferença, que pressupõe hierarquia e opressão.

ausência de movimento é um sintoma de morte. Marcas tais, que aprisionam, usurpam a alegria de poder escolher outros caminhos. lembrando que a liberdade de escolher é estranhamente associada ao consumo. a possibilidade de escolher custa caro. a maneira como a gente fala diz muito como a gente vive e se organiza em grupo. gentes precisam de categorias que as sustentem. falar é uma condição de existência conjunta, que diz coisas sobre como queremos viver (desejos, angústias). fazer micropolítica é minar sistemas de dominação que adoram quando não há oposição (não institucionalizada (domesticada)), quando não há resistência ou subversão.

o processo de marcar resistências (a diferença, ora negação de sistema) é controlar o foco e contágio para manter o sistema funcionando. sabotagem, como forma descentralizada e anônima de resistência – jogar tamancos na engrenagem – é crime e por isso deve ser neutralizada, sistematicamente. a figura do dominador - que não aparece – não pode dormir em paz!

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Pagina modificada em 28 de April de 2008, às 22h48