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FEMINISMO E A QUESTÃO AMBIENTAL: QUEBRA DA LÓGICA PATRIARCAL POR UM NOVO
PARADIGMA.





Lorena Monteiro







Nos mitos, dramas e tragédias gregas observamos a luta entre os valores
matriarcais e patriarcais; as mulheres lutavam para serem vistas e
respeitadas, e o patriarcado se impunha através de uma luta conflituosa,
onde a lógica patriarcal viria a introjetar o poder de dominação e
violência. Em alguns mitos do Oriente Médio, a Deusa é estuprada,
assassinada, humilhada. Esta simbologia mostra a passagem de uma ética de
respeito e adoração para uma ética de violência e dominação em relação às
mulheres. Como exemplificação do conflito que se deu no processo de
introdução do patriarcado podemos citar a simbologia trazida pela serpente,
um animal dotado de poder feminino, símbolo da grande Deusa, reverenciado
várias vezes nos mitos, sendo morta e exterminada, para simbolizar a
derrocada do feminino na história. Essa época de conflito e a instalação da
lógica patriarcal acarretaram em um desmoronamento do direito materno, qTue
se deu com o domínio do homem sobre a agricultura, sobre a criação de gado,
utensílios de metal e, como ele se refere, sobre o gado humano: o escravo.

Outra vertente aponta o cristianismo como causador maior dessa oposição
natureza/homem, que veio com a afirmação de que Deus criou o homem a sua
imagem e semelhança, trazendo uma idéia de que esse homem se sobressai a
natureza, é diferente dela. Com o cristianismo, os Deuses já não habitam
mais o mundo, já não fazem parte da natureza, o cristianismo trás um Deus no
céu, regendo a vida dos humanos. Outro exemplo de conflito entre o sagrado
e o racional, nessa batalha pela supremacia do pensamento e da ética
patriarcais, foi o episódio da caça as bruxas que terminou com milhões de
mulheres queimadas. Por um lado buscando a centralização do poder, por outro
exterminando a ameaça que causavam as mulheres com seu domínio sobre o poder
de cura, com o avanço da ciência esse domínio tinha que ser negado. A
solução veio em forma de extermínio dessas mulheres através da Santa
Inquisição, criada pela Igreja para conter o pensamento divergente. E é
através do medo e pavor criado pela Santa Inquisição que se formata o
comportamento de homens e mulheres, surge aí a figura da pacata dona de
casa, mãe dedicada, doméstica. O pensamento judaico-cristão veio assim a
reduzir a sexualidade à atividade reprodutora, pois satisfazer os instintos
é, a partir daí, pecado. Nasce o amor dissociado do corpo, reforçando a
família nuclear e o casamento monogâmico. Enfim, a emergência do feminino: a
emancipação feminina se mostra como uma das mais importantes da história,
mais humanizadora dos tempos modernos e, de fato, uma das mais
transformadoras. Em cinqüenta anos, em média, o feminismo contribuiu para
diversas mudanças no sistema social, seja no âmbito da educação, saúde, nos
movimentos ambientais, pacifistas, no direito. Lutaram pelo voto feminino,
pelo direito de decidir sobre o próprio corpo, pela liberdade sexual,
direito ao orgasmo, liberdade econômica, controle de natalidade, etc. E
apesar de várias dessas contestações terem resultados positivos, a luta e o
esforço das mulheres nesse movimento ainda não é suficiente. E concordamos,
de fato, que essa luta possa ir além e contribuir para a quebra de valores
patriarcais, esses por sua vez, internalizados em nossa sociedade, não
apenas no âmbito da exploração da mulher, mas também da exploração animal,
das relações entre os homens, das relações de produção capitalistas, enfim,
do sistema social, no geral. Partimos de um pressuposto de que a lógica que
explora as mulheres é a mesma lógica que explora os animais, a lógica do
patriarcado. Não há possibilidade de conciliação entre a lógica predatória
e de exploração do patriarcado, que é caracterizada pela violência sobre a
natureza, sobre as classes, sobre os fracos e sobre as mulheres, com uma
conduta de preservação da natureza e respeito á liberdade dos animais, por
exemplo. Só uma mudança de paradigma que supere o patriarcado pode trazer a
possibilidade de responder aos desafios que dizem respeito aos limites e
direitos da natureza. Propõe-se assim, um resgate da visão feminina de
mundo. Antes um mundo explicado pelo religioso, onde os deuses estavam por
toda parte, eram a própria natureza e tudo se era explicado por ela mesma,
depois um mundo explicado pela ciência, uma distinção entre homem/natureza,
sujeito/objeto, alma/matéria. Hoje se faz necessário uma visão científica,
porém, de caráter não-antropocêntrico. Propõe-se um resgate do feminino, em
contraponto ao patriarcado e seu modelo predatório de desenvolvimento e á
sociedade industrial e colonial que tem a natureza como objeto de exploração
e de dominação desenfreada da natureza pela técnica. Podemos perceber a dor
e a repressão que está submetida á natureza e seus elementos nesse processo
de desenvolvimento social, político e econômico, dentro do mesmo modelo que
oprime mulher, negro, pobre, etc. E nos faz, ainda, questionar até onde
confiar em propostas de preservação, de redução de danos e até quando
confiar cegamente na ciência para solução de tais problemas apontados até
então, uma vez que essa ciência não apresenta uma proposta, digamos que
iconoclasta, de negação e de mudanças de paradigmas. Sendo assim se faz
necessário uma luta contínua e por sua vez, em uma totalidade, que busque
transformar qualquer forma de exploração e submissão, seja das mulheres, dos
homossexuais, dos negros, dos animais, da natureza, enfim. E só uma luta com
essa dimensão anti-sexista, anti-racista e anti-especista pode trazer uma
maior mudança de paradigma, uma transição de uma sociedade patriarcal de
dominação e exploração para uma sociedade feminina, harmônica. O capitalismo
passa por cima de tudo que não gera lucro, o mundo está baseado na
racionalidade, no materialismo e no estruturalismo e não se vê espaço para o
princípio feminino intervir e equilibrar essas forças, trazendo consigo o
poder de alterar ou subverter a lógica consumista, egoísta, mostrando um
novo paradigma, novos valores, uma nova ética. E um olhar especial é dado
para a libertação animal, por talvez, essa ser a última fronteira ética que
precisa ser ultrapassada. Já foi absurda a emancipação das mulheres e a
abolição dos escravos, hoje muitas pessoas ainda não aceitam a abolição
animal. E da mesma forma que os sexistas violam o princípio da igualdade
entre os sexos, os especistas violam o principio da igualdade entre as
espécies, no momento que se serve da outra espécie, explora e não a
reconhece como ser E o que se propõe é um caminho conjunto e de mútua ajuda:
a luta pela emancipação feminina e a luta pela abolição animal, a luta pelo
respeito á natureza, uma natureza que tem seu fim em si mesma e não na
utilidade que essa terá para o homem após sua exploração.
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