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Nu Shu

Nü Shu é um sistema de escrita usado pelas mulheres chinesas da minoria Yao, na região de Hunan, sul da China, para registrar biografias, poesias e canções, na maior parte escrito em versos. Elas fazem parte de uma minoria lingüística chinesa, massacrada pela imposição do mandarim padrão, língua ensinada nas escolas oficiais.

A Nü Shu é uma escrita predominantemente silábica, com aproximadamente 700 grafemas básicos e outros individuais compostos de até 20 traços combinados com pontos, curvas e pequenas insígnias. Por causa da grande quantidade de traços na escrita Nü Shu, os homens se referiam a ela como escrita-de-mosquito e escrita-de-formiga e a tratavam de forma pejorativa em geral, assim a Nü Shu permaneceu viva apenas em espaços restritos às mulheres.

As mulheres de escribas da Nü Shu celebram laços entre si e estabelecem relações especiais, numa comunidade de mulheres. O uso, aprendizagem e ensino do Nü Shu tanto fortaleceu esses espaços íntimos, de promessa e amizade entre as mulheres, irmãs-juradas, como fortaleceu-se neles. A escrita Nü Shu foi muito usada para bordar lenços de seda e para crianção dos San Chao Shu, livros forrados a pano que eram oferecidos às esposas no terceiro dia após a cerimónia de bodas, contendo nas primeira páginas poesias exprimindo votos de felicidade e a pena de mães, avós e tias pelo afastamento da mulher da sororidade.

As primeiras doze páginas continham votos de felicidade e lamentos das amigas, mãe, irmãs e avós. As demais páginas ficavam em branco para a mulher em despedida escrever suas experiências e sentimentos, em Nü Shu, que os homens não conseguiram ler.

Este tipo de livro continha folhas vazias, que iriam sendo preenchidas pela esposa durante o resto da sua vida, que iria decorrer na reclusão da casa do seu marido. Mas o relato perdia-se, porque muitas vezes, este livro era queimado com os restos mortais da mulher, depois do seu falecimento, o que explica que existam poucos desses livros. Contudo, os registos também podiam ser relatos dramáticos, por exemplo o pungente registo das torturas infligidas a uma mulher chinesa, pelos ocupantes japoneses, durante a II Guerra Mundial, conforme o relata a investigadora japonesa Orie Endo no seu livro.

Cadernos de Tipografia / Nr.9 / Junho de 2008

As autoridades chinesas não tem sucedido em preservar o património cultural Nü Shu, pelo que há que temer que esta tradição secular desapareça completamente. O facto de alguns lenços bordados serem comercializados como atracção turística (no chamado Nü Shu Garden) e alguns cursos de aprendizagem parecem contribuir para manter viva a prática do Nü Shu, mas já completamente fora do contexto social e emocional feminino que lhe deu a sua origem.

Cadernos de Tipografia / Nr.9 / Junho de 2008

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Pagina modificada em 29 de August de 2008, às 16h45